9.7.10

ó boa

Ando de transportes públicos quase todos os dias e não é das primeiras vezes que isto acontece. Até já tenho um stalker, mas isso fica para outro(s) post(s).
Entrei no autocarro, apontamentos de Química Orgânica I na mão, e sentei-me num dos lugares da frente, à beira dos de cedência obrigatória. À minha volta, um grupo de mulheres a falar como quem não quer a coisa que "a menina"¹ podia ir para os outros assentos e deixar a amiga delas vir para o meu lugar.
"Hã?" Não estava atenta. "Quer que eu vá para ali?"
Lá fui, uma delas tira um envelope da Worten com fotos extremamente mal tiradas de uma jovem grávida prestes a rebentar. "Que barriga tão descida. Vai ser rapaz!". As tretas do costume.
A criança de calções verdes ao meu lado levanta-se na Praça Guilherme Gomes Fernandes. Senta-se um homem de meia idade, que parece precisar de abrir muuuuuito as pernas quando está sentado. Há gente rude assim. Um pouco desconfortável para mim.
Finge verificar as horas. Para tal, necessita de meter o seu cotovelo na minha mama. Agora, começo a desconfiar se este não será um daqueles. Pode apenas ser descoordenado. Sim, é isso. É descoordenado, eu também tenho que abrir muito as asas quando como. Mas aquilo das pernas abertas continua a incomodar. Encosto-me ainda mais à janela do autocarro. Ele abre ainda mais, de modo a continuar a estar em contacto. A mão esquerda que está pousada na sua coxa começa a querer tocar na minha. Cruzo as pernas e encolho-me o mais possível.  A senhora à minha frente lança-me um olhar de quem está a entender.
Estamos agora na paragem antes da minha, e ao contrário do que faço normalmente, já me pus a pé a tentar andar em direcção à porta de trás. Quem se levanta também, quem é quem é? Encosta-se a mim e o autocarro nem está muito cheio. Sinto-me enjoada, meia a hiperventilar. Avanço ainda mais, sempre agarrada aos ferros. Ele segue-me. Está agora a roçar-se a mim. Ouço a sua respiração. É impossível isto não ser de propósito. Estou dividida entre a) meter-lhe um tacão na virilha; b) gritar "QUER PARAR COM ESSA MERDA, CARALHO?"; c) vomitar; d) chorar; e) todas as anteriores.
A minha paragem. Saio, a tremer e a querer a minha mãe. Eu espero pelo verde da passadeira, ele atravessa mais abaixo, mas acaba na mesma rua que eu. Inconscientemente, queria que ele passasse o portão da faculdade atrás de mim, para eu chamar um segurança. Não o fez.
Não estava numa discoteca. Não estava "a pedi-las". Estava num autocarro a caminho de um exame.




¹Quando é que deixo de o ser, alguém me diz?

6 comments:

  1. Ahh tens un pervert atrás de ti, és uma aventureira...

    ReplyDelete
  2. Também me aconteceu isso ontem. Um dia mando-lhes um tabefe. Se sou grande ao menos aproveito-me da minha força.

    ReplyDelete
  3. Uma vez no metro um tipo apalpou-me descaradamente os seios: eu estava de costas e ele veio por trás. Eu levantei o pé e dei-lhe um pontapé entre as pernas (e olha que eu estava de tacão alto!). Saí na paragem seguinte e o tipo estava com tantas dores que nem veio atrás de mim. Nestas situações tens que te defender, não há outra maneira. Infelizmente os tarados abundam...

    ReplyDelete
  4. Eu sei, eu sei, é exactamente o que eu deveria ter feito, olhando para trás não havia possibilidade de não ser aquilo.
    Acredita, fiquei nervosa durante o resto do dia...

    ReplyDelete
  5. This comment has been removed by the author.

    ReplyDelete
  6. Esses indivíduos proliferam porque as mulheres não se insurgem. Se tivesses optado pela opção b), ele ter-se-ia encolhido todo e ido para outro lugar. e ficaria conhecido dos habituais passageiros desse transporte como um prevertido e tu como uma heroína.

    Impõe-te. Não há mal em teres reagido como reagiste, desde que aprendas com a situação. Lembra-te: quem deveria sentir-se mal era ele e não tu. Portanto, da próxima vez atalha logo que ele (qualquer ele) abrir as pernas: «O senhor não tem espaço na sua metade do banco?»

    ReplyDelete