15.7.13

a saia travada entrou de férias. iupi.

Em 81 disse à Dr.ª Manuela Brazette, psiquiatra, "Eu sou feia". Ela disse-me "Não é ser feia. Não há pessoas feias. Não tem é atractivos sexuais". Lembrei-me então do homem que em 74, tinha eu 14 anos, se cruzou comigo no Arco do Cego. Lembrei-me do homem, da cara do homem vagamente, mas lembrei-me muito bem do que ele me tinha dito ao passar por mim. Tinha-me dito "Lambia-te esse peitinho todo". Lembrei-me também da meia-dúzia de outros homens que durante a minha adolescência me tinha dito quando eu passava "Coisinha boa" e "Borrachinho". Ainda hoje me sinto profundamente agradecida a esses homens. Pensei que estavam a avacalhar, que eram uns porcalhões. Mas quem estava a avacalhar era a Dr.ª Manuela Brazette, ela é que é uma porcalhona. Acho que um homem nunca consegue ser mau para uma mulher como outra mulher .
-Adília Lopes, in Irmã barata, irmã batata. Braga/Coimbra: Angelus Novus, 2000. p. 12

Gosto de elogios. Gostei do senhor que disse que gostava do meu chapéu e que hoje ninguém anda de chapéu e que lhe fazia lembrar a mãe dele. Gostei da senhora no comboio que me disse que eu parecia a Audrey Hepburn (mas que grande wtf.)
Não gosto de piropos. Não gostei de quando tinha 12 anos, estava à espera que a minha mãe me viesse buscar e um camionista a passar na estrada ficou a olhar e a buzinar. Não gostei quando um tarado me seguiu pelos Clérigos acima a querer o meu numero de telefone. Não gostei quando mais uma vez estava à espera da minha mãe (carro azul, porque te atrasas sempre?) e gunas fizeram voltas à rotunda para me verem, mostrei-lhes o dedo do meio e chamaram-me puta. Isso não foram elogios. Senti-me invadida, exposta, de carcaça aberta na montra do talho.



2 comments:

  1. tens razão, por vezes os melhores elogios são os mais simples como esse do chapéu. de certeza que te fez sorrir :)
    ps - descobri o teu blog recentemente mas estou a gostar de ler!
    beijinhos *

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