8.8.10

o papão do remédio

Venda de fármacos para crianças hiperactivas continua a aumentar
- publico.pt

Houve um dia em que ia de metro, e um menino, sentado à beira da sua avó, insistia em atirar uma colher toda suja de iogurte para onde a gravidade a levasse, e os restantes passageiros sorriam todos toinos e davam-lha, só para ele a atirar outra vez, e outra, e outra, até que me acertou. Lancei aquele olhar de quem não está para brincadeiras a ambos, avó e neto, e dei a entender que não ia pegar na colher coisa nenhuma. Outra pessoa com bem mais paciência que eu a entregou à senhora, que disse "ele é hiperactivo, sabe?". Ninguém me pediu desculpa, e a avó finalmente teve o bom senso de guardar o talher ofensivo. O catraio continuou com um sorriso a que a língua de Shakespeare chama shit-eating grin.
Acho que a hiperactividade está seriamente sobrediagnosticada em rapazes, e subdiagnosticada em raparigas e adultos. Corre e gosta muito de jogar à bola? Hiperactivo. Não consegue prestar atenção ao que quer que seja, sempre na lua, esquece-se de tudo? Burro/preguiçoso/cabeça de alho chocho.
Se de facto a criança (ou adulto) é diagnosticada (por um especialista, não mãe/pai/professor/senhora da padaria) e a perturbação lhe causa sofrimento e insucesso escolar, porque não medicar? Afinal, não tomamos insulina se formos diabéticos, ou um antibiótico quando temos uma infecção?

Post escrito por "uma menina sonhadora, de cabeça na lua".

(Notícia numa altura pertinente, em que eu própria, de maior idade e vacinada, sofro as consequências de ter um cérebro que nunca para quieto. Hão-de reparar que a minha escrita neste blog reflecte isso.)

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