17.10.13

reality check.

Comboio urbano Porto-Braga, mais ou menos Rio Tinto, comigo nos lugares da frente a ouvir música e a ler, comodamente na minha bolha. Eis que a bolha se rebenta quando vejo que uma mulher de meia idade está a berrar com uns homens ao meu lado com mau aspecto, a dizer "EU VI O QUE VOCÊS FIZERAM! EU VI! AINDA POR CIMA COM CRIANÇAS AO LADO!", a gesticular vagamente para mim e as outras raparigas com camisolas de faculdades ao meu lado. Pensei que talvez tivessem feito uma demonstração de afecto. Um deles, sentado, barafustava a dizer que não se tinha passado nada, o outro, mais magro, dizia para lhe ter calma. "EU VI! VOCÊS PASSARAM QUALQUER COISA! OU VOCÊS SAEM OU EU CHAMO O REVISOR!!!"
Percebi  que afinal, o gesto ofensivo foi a passagem de droga. Dizem que têm bilhete. Agora começa-se a juntar mais gente, mais forte e mais jovem que a senhora, e começam a bater-lhes. O comboio pára em Águas Santas-Palmilheira, as portas abrem,  um continua a queixar-se que tem bilhete até Ermesinde, mas o outro quando lhe põem fora foge. Bem tentam ao outro mas ele agarra-se às barras do comboio, "Estou de ressaca, é para o consumo, é só para consumo" e o que lhe vale é que  chega um homem que retira o homem que lhe estava a dar socos na barriga e chega o revisor e três homens, que o atiram contra a parede e lhe mostram a identificação. A senhora continua a gritar, "EU VI! ELES TINHAM MEIO QUILO DE DROGA! VOCÊS DESTROEM A NOSSA VIDA! DESTRUIDORES!", ele tenta falar por cima do ombro do polícia, "QUEM É QUE TEM A VIDA DESTRUÍDA AQUI?" A senhora é levada lá para trás por um jovem que a tenta acalmar, uma rapariga ao meu lado chora, eu pasmo, a polícia pede ao consumidor os dados pessoais.
Tem por volta de 50 anos, tem pais chamados Maria e José, é Aquário, já foi casado. Diz que "anda nisto" há 30 anos.

1 comment:

  1. Hum, não me surpreende, mas gostava de ter assistido. Situações engraçadas também se apanham no autocarro... Por um lado, ris-te internamente destas situações caricatas que só neste país; por outro, não consegues parar de olhar. Somos criaturas estranhas.

    ReplyDelete