27.8.10

m.i.a.


folding chairs, originally uploaded by Christina Branco.
Só para dizer que não morri afogada no Mediterrâneo. Continuo viva, apenas um bocadito mais queimada. Há quem goste da carne bem passada.

Depressa volto com muitas histórias e muitas mais fotos.
Hasta luego!

22.8.10

silly season

A uns escassos dias de ir de férias pouco-merecidas, deparei-me (ou melhor, a minha mãe, porque eu nunca iria reparar em tal coisa) que só tinha um biquini funcional. Isto aparentemente é uma tragédia porque depois vais ao mar de manhã, sais da praia, tiras o fato de banho e passas por água doce, e quando voltas de tarde tens de vestir novamente o teu único trapo de nylon, agora molhado.
Fui com a pessoa-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado ao Parque Nascente, mas nas lojas de roupa íntima (que nome tão chique para "loja de cuecas", sim senhor, bom marketing) só tinham partes de cima com jóias gigantes e pindéricas. Aqueles biquinis são um perigo, aquele peso ainda por cima mal equilibrado é só para uma pessoa se afogar.
Saí da loja. Ao fundo, vislumbro umas letras azuis, a indicar um oásis de preços baixos. Primark. Lá dentro, depois de filas e filas de carteiras e de arcos com lacinhos (a minha perdição), vejo a moda íntima. Cuecas de renda! Soutiens de renda! Tudo de renda! Nada de soutiens bejes do tédio. Renda azul néon!
Encontrei os poucos biquinis que ainda tinham, e a costela judia saltou no meu peito ao vê-los a 2€! Já só tinham tamanhos granditos, mas aperta aqui, puxa acolá, e voilá, serei a banhista mais poupada de toda a Andaluzia.


(Muitas desculpas aos leitores pelo tema. É a silly season, não há notícias de jeito senão os incêndios, não me deparo com situações estranhas no meu dia-a-dia pelo Porto... e depois dá nisto. Brevemente voltamos ao conteúdo intelectualóide.)

21.8.10

happy blooday.

Ana says (23:22):
*how was the mother's birthday?
*send her a kiss for me
chrisburger. says (23:23):
*meh, ela matou galinhas e depois viu nip/tuck

Ana, minha prima do coração e do blog Push The Life.

8.8.10

o papão do remédio

Venda de fármacos para crianças hiperactivas continua a aumentar
- publico.pt

Houve um dia em que ia de metro, e um menino, sentado à beira da sua avó, insistia em atirar uma colher toda suja de iogurte para onde a gravidade a levasse, e os restantes passageiros sorriam todos toinos e davam-lha, só para ele a atirar outra vez, e outra, e outra, até que me acertou. Lancei aquele olhar de quem não está para brincadeiras a ambos, avó e neto, e dei a entender que não ia pegar na colher coisa nenhuma. Outra pessoa com bem mais paciência que eu a entregou à senhora, que disse "ele é hiperactivo, sabe?". Ninguém me pediu desculpa, e a avó finalmente teve o bom senso de guardar o talher ofensivo. O catraio continuou com um sorriso a que a língua de Shakespeare chama shit-eating grin.
Acho que a hiperactividade está seriamente sobrediagnosticada em rapazes, e subdiagnosticada em raparigas e adultos. Corre e gosta muito de jogar à bola? Hiperactivo. Não consegue prestar atenção ao que quer que seja, sempre na lua, esquece-se de tudo? Burro/preguiçoso/cabeça de alho chocho.
Se de facto a criança (ou adulto) é diagnosticada (por um especialista, não mãe/pai/professor/senhora da padaria) e a perturbação lhe causa sofrimento e insucesso escolar, porque não medicar? Afinal, não tomamos insulina se formos diabéticos, ou um antibiótico quando temos uma infecção?

Post escrito por "uma menina sonhadora, de cabeça na lua".

(Notícia numa altura pertinente, em que eu própria, de maior idade e vacinada, sofro as consequências de ter um cérebro que nunca para quieto. Hão-de reparar que a minha escrita neste blog reflecte isso.)

1.8.10

crise de fé

... é o que estou a ter. Fui baptizada aos três meses, andei num colégio católico durante 10 anos (e atenção, não era catolicismo light, era uniformes, professoras freiras e só poder sair quando os pais iam lá buscar no seu Mercedes), frequentei a catequese dois anos (até fazer a Primeira Comunhão, mas depois eu queria muito fazer a Solene porque os meus coleguinhas recebiam todos para cima de 80 contos em prendas). A minha família é uma amálgama de convicções. Há o meu pai, com uma costela judia, educado em seminário, e hoje agnóstico acérrimo; a minha mãe, que pode dizer todo o mal da Igreja, mas eu que diga que não preciso de ter cinco figuras de Nossa Senhora no quarto e acusa-me de ser satânica; o meu avô, que hoje é um Anglicano praticante e a minha avó que parece acreditar mais em bruxas que na Igreja.

O meu avô, quando está cá em Portugal, vê-se obrigado a ir à missa aqui numa comum igreja católica romana. Parece que está numa celebração diferente da de toda a gente: munido do seu missal anglicano, lê o evangelho de acordo com o seu calendário e não ouve a leitura, não toma a hóstia, levanta-se, senta-se e ajoelha-se em alturas diferentes que as dos restantes paroquianos. Não entendo o porquê.

O meu avô é um exemplo extremo, mas vejamos. Portugal tem 85% de católicos¹. Em 2006, 14,5% das mulheres com idades entre 18 e 49 já fizeram uma IVG². 72.4% das mulheres nesta faixa etária está a usar um método contraceptivo³. Não consegui arranjar dados portugueses sobre sexo pré-nupcial fidedignos, mas pelos menos nos EUA, um país ainda mais conservador que o nosso, os dados apontam para 95%4. Tudo actos que o Vaticano condena, o aborto inclusivé sendo pior que a pedofilia5. Nem precisamos de falar disso, se 50% da população é mulher, grande parte destas católica. Se um dia sentissem o chamamento de serem sacerdotes, paciência, que isso é outro pecado6, tudo em nome da tradição. Nem vou falar na organização profundamente misógina que é a Opus Dei. Porém, continuam na Igreja, filhos baptizados e de catecismo na mão.

É como se isto fosse televisão por cabo ou uma apólice de seguros, vem por pacotes com diferentes opções e depois escolhe-se consoante. No pacote Catolicismo Essencial, temos o baptismo e a catequese para os meninos, depois um rico casamento com noiva de branco (cof cof) e muitos, muitos divórcios. Pacote Catolicismo Base: Baptismo, catequese mais as duas comunhões, o casamento da praxe e ir mais ou menos regularmente à missa. Catolicismo Premium: não é para fracos, toca a ter quantos filhos quanto Deus quiser dar (e olha que são muitos), mulheres, parem de usar essas calças de herege e homens, nada de se tocarem nas partes pudendas enquanto pensam na Soraia Chaves (nem digo mulheres, porque as mulheres não se tocam, certo?)

Até já, Igreja Católica Apostólica Romana. Não acho que tenho que sofrer por Eva ter comido uma maçã há montes de anos atrás;  não acho a sexualidade saudável um pecado, daí achar que Maria ser virgem ou não não muda nada na sua Santidade; não quero seguir dogmas feitos há seculos por meia dúzia de senhores celibatários, quero ler a Bíblia e tirar daí as minhas conclusões. Pode ser que um dia saias da época do Imperador Constantino.

"Nisto, não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" Gálatas 3, 28


¹Dados do INE, Censos 2001
²Estudo-Base sobre as Práticas de Aborto em Portugal, Consulmark, 2006
³Estudo-Base sobre as Práticas de Aborto em Portugal, Consulmark, 2006
4 USA Today
5Monsignor Girotti: più facile assolvere un pedofilo pentito che una donna che ha abortito
6 in Publico.pt

28.7.10

bibliophilia

Gasto demasiado dinheiro em livros. Eu sei que deveria ir a uma biblioteca pública e ler a meu bel-prazer a custo zero, mas a) os livros são todos em português e odeio ler em português; b) a biblioteca da minha terra é uma anedota, não me apetece pegar no carro para ir à dos nossos vizinhos nem no comboio para ir à do Porto.
Sendo assim, compro-os e ficam na minha estante. Já comprei mais duas estantes ano passado, já dá para me fotografarem à frente da estante e a partir daí, tudo o que eu disser é eloquente, pertinente, inteligente. Talvez até farei provas orais da faculdade à sua frente, quem sabe munida de um cachimbo. E nada de lentes de contacto. Óculos fazem subir o QI vinte pontos. Monóculo quarenta. E monóculo seria bastante vantajoso para mim, creio.

24.7.10

e eu sou um 1/4 dele.

O meu avô é obcecado com fracções, penso.
À noite, o seu jantar consiste em metade de uma maçã e metade de uma banana, regado com uma antiga garrafa de coca-cola de 33cl de vinho tinto. Depois, vai para o quarto de banho, onde lê uma parte do JN ou do Expresso, e fuma um terço de cigarro, que de seguida apaga e deixa no cinzeiro para a noite seguinte.

20.7.10

só para eu me sentir um pouco melhor

As pessoas precisarem de média 19 para entrar na faculdade é um disparate. Significa que são pessoas pouco dotadas: só sabem utilizar a memória. Em termos de qualidades humanas ficam para trás. O que é que uma pessoa sem qualidades humanas faz ao exercer profissões em que isso é essencial?
 - Carlos Lopes Pires, psicólogo clínico, in JN

19.7.10

neuter your pets and family members

Quando eu finalmente dominar o mundo, vou arranjar cientistas que vão inventar uma forma de esterilização 100% reversível para ambos os sexos, que irá ser mandatória para toda a gente. Depois, quando quisessem ser pais, tinham que passar um teste teórico, e depois ter aulas práticas (à la escola de condução). Se ao fim disto passassem tudo e ainda assim se quisessem reproduzir, revertia-se a esterilização e lá deitavam para fora um puto.

9.7.10

ó boa

Ando de transportes públicos quase todos os dias e não é das primeiras vezes que isto acontece. Até já tenho um stalker, mas isso fica para outro(s) post(s).
Entrei no autocarro, apontamentos de Química Orgânica I na mão, e sentei-me num dos lugares da frente, à beira dos de cedência obrigatória. À minha volta, um grupo de mulheres a falar como quem não quer a coisa que "a menina"¹ podia ir para os outros assentos e deixar a amiga delas vir para o meu lugar.
"Hã?" Não estava atenta. "Quer que eu vá para ali?"
Lá fui, uma delas tira um envelope da Worten com fotos extremamente mal tiradas de uma jovem grávida prestes a rebentar. "Que barriga tão descida. Vai ser rapaz!". As tretas do costume.
A criança de calções verdes ao meu lado levanta-se na Praça Guilherme Gomes Fernandes. Senta-se um homem de meia idade, que parece precisar de abrir muuuuuito as pernas quando está sentado. Há gente rude assim. Um pouco desconfortável para mim.
Finge verificar as horas. Para tal, necessita de meter o seu cotovelo na minha mama. Agora, começo a desconfiar se este não será um daqueles. Pode apenas ser descoordenado. Sim, é isso. É descoordenado, eu também tenho que abrir muito as asas quando como. Mas aquilo das pernas abertas continua a incomodar. Encosto-me ainda mais à janela do autocarro. Ele abre ainda mais, de modo a continuar a estar em contacto. A mão esquerda que está pousada na sua coxa começa a querer tocar na minha. Cruzo as pernas e encolho-me o mais possível.  A senhora à minha frente lança-me um olhar de quem está a entender.
Estamos agora na paragem antes da minha, e ao contrário do que faço normalmente, já me pus a pé a tentar andar em direcção à porta de trás. Quem se levanta também, quem é quem é? Encosta-se a mim e o autocarro nem está muito cheio. Sinto-me enjoada, meia a hiperventilar. Avanço ainda mais, sempre agarrada aos ferros. Ele segue-me. Está agora a roçar-se a mim. Ouço a sua respiração. É impossível isto não ser de propósito. Estou dividida entre a) meter-lhe um tacão na virilha; b) gritar "QUER PARAR COM ESSA MERDA, CARALHO?"; c) vomitar; d) chorar; e) todas as anteriores.
A minha paragem. Saio, a tremer e a querer a minha mãe. Eu espero pelo verde da passadeira, ele atravessa mais abaixo, mas acaba na mesma rua que eu. Inconscientemente, queria que ele passasse o portão da faculdade atrás de mim, para eu chamar um segurança. Não o fez.
Não estava numa discoteca. Não estava "a pedi-las". Estava num autocarro a caminho de um exame.




¹Quando é que deixo de o ser, alguém me diz?

8.7.10

sensitivo conforto extra para maior prazer sem látex

assorted, originally uploaded by меr.
Expor os preservativos ao lado das coisas de bébé e dos testes de gravidez é um golpe de marketing excelente.